Pesquisadores da USP exploram o potencial das Terras Pretas de Índio para a recuperação de áreas degradadas na Amazônia.
Os pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) estão explorando um recurso natural singular na Amazônia, conhecido como Terras Pretas de Índio (TPI), que pode ser uma ferramenta valiosa para a conservação do bioma. Este solo escuro e fértil, encontrado na floresta amazônica, é resultado do trabalho de povos indígenas de cerca de 2.000 a 2.500 anos atrás, que enriqueceram uma terra originalmente pobre em nutrientes com materiais como carvão, argila, esterco e ossos.
O solo resultante, rico em magnésio, zinco, fósforo, cálcio e outros minerais, é encontrado nas margens dos rios da região e tem sido uma peça chave para a agricultura dos povos nativos. Atualmente, a ciência vem se inspirando nesses conhecimentos tradicionais para experimentar com este tipo de solo, cujos resultados indicam que ele pode facilitar a recuperação de áreas degradadas ou convertidas em pastagens.
No entanto, a professora da USP, Tsai Siu Mui, ressalta que o TPI levou milhares de anos para se formar e levaria o mesmo tempo para se regenerar se fosse explorado. Portanto, ela recomenda que, em vez de usar o TPI diretamente, deve-se imitar suas características, principalmente a sua rica comunidade de microrganismos, em futuros projetos de restauração ecológica.
Uma experiência realizada por cientistas da USP e de Manaus envolveu o plantio de sementes em três conjuntos de vasos com diferentes proporções de TPI e solo convencional. As plantas não apenas cresceram seis vezes mais na presença de TPI, mas o solo do experimento também apresentou uma diversidade muito maior de microrganismos e mais disponibilidade de nutrientes.
Anderson Santos de Freitas, biólogo molecular responsável pelo estudo, explica que os micróbios transformam partículas do solo em nutrientes que podem ser absorvidos pelas plantas, por isso sua presença é tão vital para o desenvolvimento vegetal. Além disso, o estudo revelou que algumas espécies, como a Embaúba, uma das primeiras a repovoar áreas degradadas, sequer conseguem crescer em solos sem TPI.
Portanto, esta técnica milenar pode ser uma das soluções para reverter os danos atuais causados por incêndios e desmatamentos na Amazônia.