Descubra como as peças do xadrez ganharam nomes e identidades diversas ao longo da história, refletindo a riqueza cultural de diferentes regiões.
O xadrez, tal qual um jornal chinês, utiliza um conjunto de símbolos universais compreensíveis por pessoas que falam línguas distintas.
Ao longo de sua jornada milenar, que começou na Índia no século VII como chaturanga e chegou à Islândia como skák por volta de 1600, o jogo conquistou o mundo e, ao fazê-lo, sofreu mudanças sutis e significativas, adaptando-se às particularidades culturais de cada região.
Apesar de manter seu tabuleiro, peças e a maior parte das regras, o xadrez passou por transformações simbólicas, refletindo a cultura de cada lugar. Por exemplo, a peça peão, que representa um soldado de infantaria, é chamada de “garçons” (meninos) no francês antigo ou “espion” (espião) em alguns contextos.
Enquanto isso, em línguas germânicas e outras, como o dinamarquês e o esloveno, o peão é conhecido como “fazendeiro”, provavelmente devido à sua função de “carne para canhão” em tempos de guerra.
O cavalo, desde sua origem na Índia, sempre manteve sua associação com o animal ou seu cavaleiro, como no caso do islandês “riddari”. Por outro lado, o bispo apresenta uma vasta gama de denominações, passando de “elefante” em sânscrito e persa, a “tolo” ou “bobalhão” em francês e “bandeirante” em italiano.
A torre tem uma história curiosa. Originalmente chamada de “carruagem” em sânscrito e “rukh” em persa, essa peça passou a ser conhecida como “torre” ou “castelo” em várias línguas europeias. Uma teoria sugere que a palavra persa “rukh” foi transmitida quase inalterada para o italiano antigo como “roc” ou “rocco”, semelhante à palavra “rocca” que significa “fortaleza”. Outra hipótese é que as carruagens de guerra persas eram tão pesadamente blindadas que lembravam fortificações móveis.
A rainha, por sua vez, nem sempre esteve ao lado do rei. No jogo indiano original, essa peça era o “conselheiro” do rei. Com o tempo, a peça adquiriu uma identidade feminina e ganhou poderes adicionais, passando a combinar os movimentos em linha reta da torre com os diagonais do bispo. Em algumas línguas, como o russo e outras eslavas, a peça ainda é chamada de “conselheiro”.
O rei, entretanto, manteve seu título original ao longo da história do jogo. Curiosamente, nas versões asiáticas do xadrez, essa peça central tem um status ligeiramente diferente, sendo chamado de “general” em chinês e coreano e “príncipe” em mongol.
O movimento do rei é limitado a uma casa em qualquer direção, mas no século XIII, foi introduzido o “en passant”, permitindo ao rei realizar um salto por partida. Essa regra evoluiu para o movimento conhecido como “roque”, envolvendo uma das torres, no qual o rei se movimenta para “proteger-se” em seu “castelo”.
Essa diversidade linguística e cultural presente no xadrez reflete a riqueza e a complexidade das tradições de cada região do planeta. Ao jogar xadrez, além de exercitar a mente e desenvolver habilidades estratégicas, os praticantes também entram em contato com um universo simbólico que transcende fronteiras e desafia o tempo, revelando aspectos fascinantes da história e da evolução humana.
Portanto, ao movimentar suas peças no tabuleiro, lembre-se de que cada uma delas carrega consigo histórias e significados que vão muito além do jogo, celebrando a diversidade cultural e a rica herança compartilhada por todos aqueles que apreciam este jogo milenar.