Descobertas em caverna sul-africana revelam que nossos antepassados apreciavam caracóis há até 170 mil anos.
Um estudo publicado na revista Quaternary Science Reviews traz novas evidências de que humanos já consumiam caracóis gigantes bem antes do que se acreditava.
Enquanto estudos anteriores apontavam para o consumo regular desses moluscos no final da última Era do Gelo, novos indícios indicam que a prática remonta de 70 mil a 170 mil anos atrás.
Pesquisadores encontraram conchas quebradas em uma caverna sul-africana com sinais de que foram aquecidas, provavelmente durante o cozimento.
Marine Wojcieszak, autora do estudo e parte do Instituto Real de Herança Cultural, em Bruxelas, explicou que a proteína gordurosa e macia dos caracóis seria um alimento importante para idosos e crianças pequenas, que têm mais dificuldade em mastigar alimentos duros.
Até então, acreditava-se que esses invertebrados e outros animais pequenos só passaram a fazer parte regular da dieta humana no fim da última Era do Gelo, entre 15 mil e 10 mil anos atrás.
A descoberta na caverna sul-africana, no entanto, mostra que nossos antepassados já compreendiam o valor nutricional dessas criaturas muito antes disso.
Os autores do estudo afirmam que os moluscos terrestres são uma excelente fonte de nutrientes e fáceis de coletar e armazenar, além de simples de preparar e digerir desde que se domine o uso básico do fogo.
Para confirmar que as conchas não haviam sido queimadas acidentalmente, os pesquisadores realizaram experimentos com caracóis gigantes modernos, aquecendo-os em diferentes temperaturas e períodos de tempo e observando as alterações resultantes.
A análise dos fragmentos encontrados junto a restos de sementes carbonizadas e ossos de animais evidenciou que os moluscos foram cozidos intencionalmente.
A equipe do estudo ressalta que, embora animais invertebrados representem mais de 95% da biodiversidade terrestre, eles costumam ser negligenciados em trabalhos arqueológicos devido ao seu tamanho e composição.
No entanto, as conchas dos caracóis gigantes são uma exceção a essa dificuldade, e a descoberta de que já faziam parte da alimentação humana há tanto tempo sugere também uma dinâmica social estruturada e um comportamento cooperativo inerente desde os primórdios de nossa espécie.